A rotina é a gente que faz

Para as pessoas que reclamam dos dias todos iguais, da mesmice do namoro, da falta de acontecimentos estupendos para sacudir a vida, infelizmente, tenho uma má notícia: não há nada que se possa fazer, porque a rotina é a gente que faz.

O café-da-manhã está na mesa de novo, mas hoje têm o pão fresco que você adora e o café forte do jeito que lhe cai bem. O trânsito continua parado, mas as melhorias da rodovia já evoluíram muitos metros silenciosamente, enquanto os motoristas persistem nas queixas. A mesma aula, no mesmo horário cedo, mas com um conhecimento a mais que o dia-depois-do-outro proporciona. As mesmas pessoas, porém, são novos os motivos para gostar de estar com elas. O amor, de forma geral, deve ser construído todos os dias, porque querer bem quem você ama exige uma superação e dedicação diária. Os assuntos parecem se repetir, até que um amigo faz uma confidência e relembra o quanto é valioso ter alguém em quem confiar. E você pega o metrô novamente lotado, quando de repente uma senhora te sorri e pede com alegria pra segurar as suas coisas. E você chega em casa a tempo de ver a última cena da novela, porque conseguiu sair um pouquinho mais cedo. O namoro de dois anos parece não ter mais a graça da estréia, até que você imagine dormir sem aquele boa noite, e perceba a injustiça que é chamar tamanha intimidade de “mesmice”. E você vê seus pais chegando em casa cansados de tanto trabalhar pelo seu sucesso, aí você vai dormir amando-os ainda mais.

Cada um desses momentos tem potencial para ser a felicidade que todos os dias você procura da forma errada. Eles geralmente não vêm embalados com cara de novidade, com pose de grandeza, e por isso são tão desperdiçados.