Tão jovens!

Quanto tempo me esquivei de mim! Achei que eu poderia fugir dos meus não-ditos, mas as palavras silenciadas pesam muitos quilos aqui dentro. Preciso derramá-las para continuar.
Na verdade escrevo porque, como define bem define o livro que estou lendo, tenho “sofrido de juventude”. Essa loucura de ver tudo mudar em dias, semanas, horas. Essa ânsia de querer tudo agora, como se não houvesse outro tempo além desse. Essa vontade de querer tocar as coisas com as mãos para acreditar que estão ali, que de alguma forma são minhas. Essa sede por abraçar o mundo, menor apenas que a crença de que ele cabe nas mãos. E, mais que isso, a fé na vida, a fé no amor, e a fé nos impossíveis de todos. É, estou bêbada de juventude. E como todo bêbado que se preze, quero errar de rua sem culpa. Numa dessas eu me encontro. A gente se encontra.

Texto de 5 minutos

Se eu não escrever agora, o sentimento alça voo e não volta mais.

Um blog pessoal tem poucas chances de dar certo porque depende do nosso traiçoeiro estado de humor e da disciplina em não omitir. E eu não conto tudo o que eu sou. Muitos textos postos no coração, prefiro deixar na marca da borracha. E até quando escrevo, quanta coisa eu guardo nas reticências! Um pouco por covardia, e um pouco por revelia. Tem coisa que é melhor não falar, pra não ver transformado em verdade pública os meus vazios. Deixa a menina alegre ficar na memória, que é mais confortável.

Se demorar mais de 5 minutos, vou apagar tudo, e subentender.

Hora do pouso

A gente não aprende a ir embora porque a bagagem que traz de volta é sempre diferente…

Até o céu traz um outro olhar pra você.

Silêncio em caixa alta

Dentro do meu silêncio é o único lugar em que eu gostaria de estar, agora. Porque as pessoas perdem tanto tempo falando, e esquecem-se da complexidade que é silenciar, para dar voz aos sentimentos a às emoções.

Todo mundo quer dar opinião, quer influenciar, quer impor suas pequenas e particulares verdades. Ninguém olha para os fatos – e para quão reveladores eles são. Ninguém se importa com o que está faltando, ainda que seja parte do essencial. É mais cômodo deixar tudo como está. De novo.

Podem falar o quanto quiserem, mas o tempo é que é bom professor. Porque ensina e comprova, ao mesmo tempo em que mostra os resultados. E é essa a voz silenciosa que vai me guiar, e me mostrar o quanto errei. Ou não. Agora não me venha falar que é o fim, quem não vai viver pra assistir.

Quadragésimo nono andar, por favor

Primeiramente, devemos reconhecer que o elevador é uma etapa, nunca um destino. Ninguém vai até o elevador se não for para apenas passar por ele. Sobe e desce, mas nunca fica. Essa é uma das tristes características humanas: o desapego.

Você torce pra que o elevador chegue vazio, ainda que goste muito dos seus vizinhos. Mania de introspecção – outra característica humana. Evitamos ser simpáticos como se não pudesse ser natural. Mas ele chega cheio, quase sempre. “Hoje amanheceu frio, né? Até que ontem tinha dado uma aliviada”. Em anos de copa, o diálogo corre o risco de extrapolar os fatores climáticos.

Pensamos, na nossa pequenez, que pessoas chegam ao elevador. São bem mais que pessoas. Chegam histórias recheadas de cor e sabor. Talvez aquela mãe com a maçã na mão tenha passado uma noite maravilhosa, e a fruta foi tudo o que deu tempo de comer, às pressas, para celebrar. E talvez aquela criancinha escandalosa tenha sofrido o trauma da perda dos pais. A loira antipática pode não ter conseguido o emprego, ou talvez apenas a tinta do cabelo tenha ficado mais escura que o esperado.

Tudo isso a gente não pensa, nos segundos que passamos dentro do elevador. Preferimos mirar o espelho, de canto de olho, do que prestar atenção nas aventuras que transbordam em cada um dos passageiros. Tudo o que queremos é chegar, porque não soubemos o quanto seria bom ficar.

Há outra coisa interessante sobre o meu objeto de inspiração. Ele atua com velocidade psicológica. Elevadores de prédios comerciais e de shoppings parecem não chegar nunca, e quando chegam, se arrastam preguiçosos para distribuir as pessoas. Mas elevadores de aeroporto, meu Deus! Com que rapidez mortificante eles se deslocam! Elevadores de despedida desconhecem a saudade. Na verdade, não é culpa deles. É outra característica (apenas) humana.

Acho engraçado é o quanto nos intimidamos quando entra alguém no elevador no momento em que estamos conversando. Geralmente é um completo estranho, pra quem você não deve nenhuma satisfação, mas ainda assim a reação imediata é a de querer parar de falar. No mínimo, diminui-se o tom de voz.

Sem falar nos cheiros. Tudo é muito mais intenso dentro do elevador, apesar da brevidade. O contato com o outro é inevitável, quase que invasivo. Até o ato de pensar parece constranger. Os olhares, os ruídos, a posição das mãos. Tudo é extremamente sucetível. E essa vulnerabilidade, esse “não ter para onde fugir” em que nos colocamos, incomoda.

Hoje os problemas diminuíram. Os passageiros têm pressa, e nem se dão ao trabalho de olhar ao redor. Embarcam absortos em seus pensamentos e preocupações, e desembarcam como se nem tivessem entrado. Quando muito, reparam se o cabelo está assentado e, a roupa, alinhada. Esbarram em histórias de vida, mas não enxergam nada além de si.

Outra adaptação humana para o problema do elevador foi a aquisição de televisores. Para todos aqueles que se sentem perdendo tempo com o deslocamento, ou que simplesmente querem ter para onde olhar, agora ficou resolvido: consomem publicidade gratuita.

Todos os dias passamos por muitos elevadores diferentes. São segundos que, se somados, representariam um bom pedaço de vida. Pense nisso, antes de esperar por elevadores vazios.

Silêncios da madrugada

A gente sempre vai dormir com as coisas que não dissemos e os momentos que covardemente evitamos. E acorda no outro dia como se nada tivesse acontecido.

O outro

A convivência só afasta porque aproxima demais, e eu não trocaria nenhum instante vivido intensamente ao lado das pessoas – quaisquer que sejam – por momentos corriqueiros e superficiais. A convivência é uma faculdade. Do latim convivere significa “viver em comum”.

Se, sozinhos, já temos as nossas paranóias e loucuras, imagine somá-las aos desvios de conduta alheios? Parece assustador? Pra mim, é vital. É impossível amar uma pessoa sem passar por um período de convivência, porque é impossível amar alguém cujos defeitos você desconheça. Conviver não torna nada previsível, mas torna aceitável. A partir do momento que você entende mais a fundo o universo particular das pessoas com quem convive, você aprende a compreendê-las e, muitas vezes, a perdoá-las.

A convivência que pode destruir relações é a única que tem potencial para eternizá-las.  E eu corro o risco de perder as pessoas que eu (acho) que amo, mas não perco a chance de captar-lhes a essência.

Enchente (quem nos salvará?)

Pra quem diz que a natureza não fala, os noticiários mostram o contrário. Ela grita em forma de trovões, chora enchentes, e pede encarecidamente para que o ser humano importe-se. Já passamos da época de “desligue a torneira enquanto escova os dentes” e “não lave o carro no quintal de casa”. Dever de casa feito, corrigido e decorado. É preciso muito, muito mais. E aqui não falo “só” de campanhas de conscientização, publicidades e afins. Tudo isso é imprescindível, mas não passa de uma bandeira enquanto não for interiorizado e abraçado.

A natureza tem que ser amada todos os dias, em todos os nossos pensamentos, em todos os nossos movimentos. Por gratidão, por vergonha na cara, ou ao menos pela nossa sobrevivência (agora sim!). E se ela esquecesse-se de nós, por um breve instante, e nos deixasse sem ar? Haveria outra vida para queixas e reclamações? E se ela enchesse de indústrias a nossa casa, e ficasse apenas observando nossa morte lenta?

A natureza não está doente, não enganem-se. Não está pedindo socorro. Repito, ela não precisa de nós – mais do que precisamos dela. O que estamos presenciando é o nosso ultimato, escrito pela maior de todas as mães, que concebeu a vida à humanidade.

Que nada no mundo tire o brilho de uma noiva

Não há nada mais terno e mais solene do que uma noiva. Esteja ela vestida de branco ou do colorido da estação, com um filho no ventre ou apenas o friozinho da expectativa da vida que vem pela frente. Ela nunca terá outra oportunidade de ser tão frutífera, tão disseminadora de sonhos, quanto nesse intervalo entre o amor-menina e o amor-de fato.

Quem senta no banco da igreja não se dá conta. Há muito tempo que aquela jovem de branco já fazia seu caminho rumo ao altar. Para dizer seu sim pra Deus, ela já ensaiou o sim para a vida, o sim para si mesma. Cada renúncia, cada tantinho de si que se perdia em prol do outro, cada saudade, cada tentativa frustrada de dizer não, já era um sim – apenas sem a pompa dos laços matrimoniais.

E não importa que os convidados pensem “Que pena, ela não sabe o que está fazendo”, ela só enxerga o altar. Ela só enxerga a esperança, em meio a tantas relações conjugais fracassadas. Se ela olhasse pro lado e se deparasse com tantas desilusões a lhe puxarem o tapete, ela jamais chegaria aonde julga estar a felicidade.

Pode ser que tudo dê errado, mas não cabe a ninguém dizer a uma noiva que seu ideal de amor é frívolo, idealista e pouco substancial. Se todo mundo que errasse o fizesse jogando um buquê pra trás e torcendo pelo que é eterno, errar seria um alento.

Ano Novo

Eu não sei o que vou conseguir realizar, mas sei que vou começar sonhando. Feliz 2010!!